sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Devir Guerrilha




Toda rede possui pontos fracos – nunca haverá recursos, recursos energéticos, recursos de poder, suficientes à disposição; o real escapa a cada instante; a rede se estende, ela se enfraquece.

Qualquer sistema tem de se mover – e o mais delicado movimento já é devir; ali está em jogo a permanência, o limiar está sempre a espreita, prestes a romper o que tem sido; a flertar com as promessas do que nunca foi; e com o que nunca mais será.

O sistema tem de se mover para reiterar a ordem; e nisto ele repete – ele instaura condições para a diferença; e é tudo o que precisamos.

O marxismo errou quando pensou poder prever o que devém da desestruturação; a dialética errou quando pensou poder propagar o devir a partir do grande passo, da grande diferença, da grande oposição. O guerrilheiro entende melhor a ordem: seu terrível aparato de permanência, respostas esperadas e movimento calculado; a ordem procedimentaliza e reitera – o guerrilheiro só tem presente.

E no presente a repetição é encenação: que passos esta dança pede? Qual a coreografia? A pequena emboscada; a pequena armadilha; o pequeno ardil; o pequeno improviso; quanto de sangue inimigo se pode arrancar?

Quando está parada a estrutura já não é; estrutura é plano, projeto – é passado no futuro: o sistema fenece no presente, no radicalmente atual, no pontual; o presente é ontologicamente, não apenas epistemologicamente, imprevisível. Não é que não sabemos no que vai dar, é que o presente ainda não se decidiu. “Porque antes isto depois será aquilo”: assim faz ordem. Agora! Fustiga o guerrilheiro; o que ele faz se encerra na ação mesma; não pode se estabilizar porque não dura; mas a rede já não é mais tão forte.

odonato

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