Toda rede possui pontos fracos –
nunca haverá recursos, recursos energéticos, recursos de poder, suficientes à
disposição; o real escapa a cada instante; a rede se estende, ela se
enfraquece.
Qualquer sistema tem de se mover
– e o mais delicado movimento já é devir; ali está em jogo a permanência, o
limiar está sempre a espreita, prestes a romper o que tem sido; a flertar com
as promessas do que nunca foi; e com o que nunca mais será.
O sistema tem de se mover para
reiterar a ordem; e nisto ele repete – ele instaura condições para a diferença;
e é tudo o que precisamos.
O marxismo errou quando pensou
poder prever o que devém da desestruturação; a dialética errou quando pensou
poder propagar o devir a partir do grande passo, da grande diferença, da grande
oposição. O guerrilheiro entende melhor a ordem: seu terrível aparato de
permanência, respostas esperadas e movimento calculado; a ordem
procedimentaliza e reitera – o guerrilheiro só tem presente.
E no presente a repetição é
encenação: que passos esta dança pede? Qual a coreografia? A pequena emboscada;
a pequena armadilha; o pequeno ardil; o pequeno improviso; quanto de sangue
inimigo se pode arrancar?
Quando está parada a estrutura já
não é; estrutura é plano, projeto – é passado no futuro: o sistema fenece no
presente, no radicalmente atual, no pontual; o presente é ontologicamente, não
apenas epistemologicamente, imprevisível. Não é que não sabemos no que vai dar,
é que o presente ainda não se decidiu. “Porque antes isto depois será aquilo”:
assim faz ordem. Agora! Fustiga o
guerrilheiro; o que ele faz se encerra na ação mesma; não pode se estabilizar
porque não dura; mas a rede já não é mais
tão forte.
odonato
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