segunda-feira, 17 de março de 2014

Cotidiano e Luta de Classes

Nos telejornais na cidade os manifestantes são atacados, como sempre, por "perderem a razão" e "apelar para a violência". Com os votos de sempre para que os "manifestantes pacíficos" sejam respeitados e etc.

É interessante como na retórica da imprensa os problemas urbanos são abstraídos de toda a sua dimensão concreta, parece que não falamos de uma relação social conflituosa em que um sistema favorece alguns (por exemplo, donos do transporte "público") em detrimento dos trabalhadores segregados do entorno. Parece que estamos lidando com um "fenômeno da natureza", uma "situação muito difícil", na qual todos supostamente estariam engajados em "resolver". Os trabalhadores ao queimarem o ônibus lembram os míticos luditas, e talvez aí esteja precisamente seu caráter perturbador... o fato de que eles "contaminam" a arena política que se pretende domesticada e saneada.

"Em geral, somente quando sai para a rua, o conflito de classes se transforma em guerra aberta, principalmente porque o braço coercitivo do capital está instalado fora dos muros da unidade produtiva. O que significa que confrontações violentas, quando acontecem, não se dão geralmente entre capital e trabalho. Não é o capital, mas o Estado, que conduz o conflito de classes quando ele rompe as barreiras e assume uma forma mais violenta. O poder armado do capital geralmente permanece nos bastidores; e, quando se faz sentir como força coercitiva pessoal e direta, a dominação de classe aparece disfarçada como um Estado "autônomo" e "neutro"" (Meiksins Wood, Democracia contra Capitalismo, p.47).

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2014/03/17/interna_cidadesdf,417806/apos-confronto-com-manifestantes-tropa-de-choque-detem-23-pessoas.shtml

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